sábado, 22 de agosto de 2015

Folk-Lore, folklore, folclore

   Foi em consideração ao primeiro aparecimento impresso da palavra (então hifenizada) Folk-Lore, em 1846, que o Decreto Federal Nº 56.747, de 17 de agosto de 1965, instituiu o dia 22 de agosto como o Dia do Folclore no Brasil. Mas... Como foi que a palavra surgiu?






   Imagino que muita gente, assim como eu, tenha ouvido que a palavra é resultado da junção de duas outras inglesas, folk que significa "povo" e lore, "história" ou "tradição" e que, ao chegar na Língua Portuguesa, virou "folclore", mas sem serem dados tantos detalhes ou mesmo nome de quem cunhou o termo (eu, ao menos, não lembro de ter ouvido falar dele). Pois, bem, a palavra foi cunhada por William John Thoms.
   Segundo Stephen Winick (2014), no ano do aparecimento da palavra, William John Thoms ou W.J.Thoms já era um estabelecido e ativo estudioso, tendo uma impressionante lista de publicações e sendo membro da Sociedade de Antiquários, bem como Secretário da Sociedade Camden. E, como ele já vinha pensando durante os últimos anos com a possibilidade da influência tecnológica na vida rural, estava preocupado com a possível danificação das tradições rurais por conta do aumento das viagens e das comunicações, algo especialmente simbolizado na sua mente pela ferrovia.



Folk-Lore 003


   Assim, curioso em saber se poderia estimular os seus companheiros de antiquários nas partes mais rurais a país a documentar essas tradições, ele escreveu, sob o pseudônimo Ambrose Merton, uma carta ao editor da revista acadêmica The Athenæum sugerindo uma coluna, na qual as pessoas de todo o país poderiam publicar tais tradições.
   As duas primeiras ocorrências da palavra "Folk-Lore" podem ser vistas em The Two First "Folk-Lore" Columns, também escrito por Stephen Winick, sendo que a cunhagem do termo aparece quase casualmente no seguinte trecho:


Your pages have so often given evidence of the interest which you take in what we in England designate as Popular Antiquities, or Popular Literature (though by-the-bye it is more a Lore than a Literature, and would be most aptly described by a good Saxon compound, Folk-Lore, –the Lore of the People) –that I am not without hopes of enlisting your aid in garnering the few ears which are remaining, scattered over that field from which our forefathers might have gathered a goodly crop.


   Cuja tradução seria:


Suas páginas tem frequentemente dado provas do interesse no que você toma pelo que nós na Inglaterra designamos como Antiguidades Populares, ou Literatura Popular (embora by-the-by é mais uma tradição do que uma literatura, e seria mais apropriadamente descrita por um bom composto saxão, Folk-Lore, - a tradição do povo) - que não estou sem esperanças de alistar a sua ajuda na obtenção das poucas orelhas remanescentes, dispersas por esse campo do qual nossos antepassados devem ter reunido uma agradável colheita.


   Harper nos fornece alguns acréscimos importantes, como o fato de a palavra ser uma imitação do composto germânico em volk- (sim, o mesmo volk de Volkswagem, o "carro popular") ou de haver uma palavra similar no Antigo Inglês, folclar, significando "homilia, sermão". Além disso, ele também nos informa que essa palavra reviveu o termo folk com um sentido moderno de "das pessoas comuns, do povo comum, cuja cultura é transmitida por via oral", provocando uma inundação de formações compostas: folk-song ("música do povo", 1847, traduzido do Alemão volksliedfolk-tale ("conto popular", de 1850, sendo que o Antigo Inglês folctalu significava "genealogia"), folk-hero ("herói popular", 1874), folk-singer ("cantor popular", 1876) folk-dance ("dança popular", 1877) folk-medicine ("medicina popular", 1877) e folk art ("arte popular", 1892).
   No Brasil, a palavra "folclore" aparece dessa forma após a Reforma Ortográfica de 1934 a qual não apenas eliminou a letra k, como também fez a palavra perder o hífen. Também vale lembrar que o mês de agosto é considerado o Mês do Folclore no Estado de São Paulo, devido ao Decreto Estadual Nº 48.310, de 1967.
   Por fim, a carta, como imagem, pode ser integralmente conferida neste link. Não a coloquei assim neste texto por ser relativamente pesada, então, segue a mesma ao estilo Jack, O Estripador:



Primeiro parágrafo.


Segundo parágrafo.

Terceiro e quarto parágrafos.


Quinto parágrafo.


Último parágrafo e post scriptum (o P.S., "escrito depois").





REFERÊNCIAS


GOVERNO do Estado de São Paulo. Cultura e folclore paulista: o que é folclore? Última atualização: Jul 2015. Disponível em: <http://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/temas/sao-paulo/cultura-e-folclore-paulista-o-que-e-folclore.php>. Acesso em: 22 Ago 2015. 

HARPER, Douglas. Folklore. In:___. Online Etymology Dictionary. 2001-2015. Disponível em: <http://www.etymonline.com/index.php?term=folklore&allowed_in_frame=0>. Acesso em: 22 Ago 2015.

WINICK, Stephen. "He coined the word 'Folk-Lore'": The "Old Folk-Lorist" William John Thoms. 22 Ago 2014. In: The Library of Congress. Folklife Today. Disponível em: <http://blogs.loc.gov/folklife/2014/08/he-coined-the-word-folk-lore/>. Acesso em: 22 Ago 2015.

WINICK, Stephen. The two first "Folk Lore" columns. 22 Ago 2014. In: The Library of Congress. Folklife Today. Disponível em: <http://blogs.loc.gov/folklife/2014/08/the-two-first-folk-lore-columns/?loclr=blogflt>. Acesso em: 22 Ago 2015.

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