quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Dia do Maçom e de São Bernardo

   Dentre as diversas lendas que se propõem a explicar a origem da mais conhecida sociedade secreta - que, na verdade, é mais discreta do que secreta, há a mais aceita ou difundida, a de Hirão Abiff, e uma que relaciona o surgimento da Maçonaria aos cavaleiros templários, os mesmos que tinham São Bernado por patrono, já que foi ele quem conseguiu o apoio oficial da Igreja para a Ordem. Aliás, hoje se comemora o Dia de São Bernardo, mesmo dia da sua morte, em 1153.

   Essa lenda envolvendo os templários (se quiser saber mais a respeito deles, leia Sobre os templários e Os Cavaleiros Templários e a Sexta-Feira 13) é de origem e autoria desconhecidas, sendo comum encontrar alegações de que os cavaleiros templários que sobreviveram à perseguição na Europa passaram a se reunir secretamente, transmitindo de geração em geração os segredos que teriam encontrado no Templo de Salomão, bem como que teriam sido acolhidos pelas guildas de pedreiros medievais, compartilhando tais conhecimentos.



Fonte: A história e o mito dos Cavaleiros Templários

   A primeira lenda, por outro lado, possui cerca de 300 anos e não é mencionada em nenhum antigo manuscrito maçônico, nem a Constituição de Anderson, de 1723, e nem nos Regulamentos Gerais, compilados por George Payne em  1720 (COUTO. 2007, p.105).
   Sobre Hirão ou Hiram Abiff, trata-se do filho de uma viúva da tribo de Naftali, do povoado de Dan, segundo 1 Reis, 7:14, sendo descrito como um homem hábil na metalurgia e na decoração, isso chamando a atenção do rei de Tiro, seu xará, que o enviou ao seu aliado, Salomão, a fim de que trabalhasse os adornos, colunas e estátuas de querubins que ficariam no templo de Jerusalém (a obra é detalhadamente descrita em 1 Reis, 7).



Fonte: Hiram Abiff e sua lenda

   Hirão contratou 153.600 forasteiros, dividindo-os em três categorias: 80 mil extrairiam pedras das montanhas, enquanto 70 mil transportariam essas pedras até o local da construção e 3600 construiriam o templo, ensinariam e inspecionariam o trabalho (isto supostamente sendo a origem da divisão dos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre).
   Sendo a maioria dos homens analfabetos, a comunicação se dava por meio de toques, sinais e palavras faladas. Só que, um dia, três Companheiros, que também eram construtores, exigiram-lhe que ele revelasse seus segredos e a sua palavra de Mestre - o que ele não fez, sendo morto por eles com peças do próprio uso de Hirão, que teve o corpo escondido. Os demais construtores, entretanto, não deixaram isso barato, pedindo autorização ao rei para que pudessem fazer justiça com as próprias mãos, o que eles fizeram.
   De qualquer forma, assim como nem uma nem outra lenda possui registros em antigos manuscritos maçônicos, a que relaciona maçons e templários deve ser vista como o que é, pura especulação, enquanto a Lenda de Hiram Abiff deve ser compreendida como um meio de transmissão de ensinamento, principalmente porque ela é parte do terceiro grau simbólico, o do Mestre Mação.
   Sim, "mação", essa é a forma lusófona da designação de quem é membro da Maçonaria, embora praticamente só se utilize a palavra "maçom", derivada ou do inglês mason ou do francês maçon. Se bem que o termo inglês surge por volta de 1200, derivando do Antigo Francês masson, maçon (pedreiro), a partir do Antigo Francês do Norte machun, este último provavelmente sendo derivado do Frâncico *makjo ou de alguma outra fonte germânica, já que há o Antigo Alto Alemão steinmezzo e o Alemão Moderno steinmetz com o segundo elemento relacionado a mahhon (fazer, construir), embora também possa haver influência com o Latim Medieval machio, matio (século VII), apontado por Isidoro como sendo derivado de machina, apesar de que também possa ter vindo do Latim maceria (muro, parede).
   A utilização de mason, como Freemason, entretanto, só ocorre por volta do fim do século XIV ou no século XV e, nesse caso, a referência é aos pedreiros livres mesmo, pois os registros mais antigos de atividades da Maçonaria remontam à Inglaterra do século XVII, no começo do qual a guilda de pedreiros livres passou a aceitar membros honorários, aos quais eram ensinados os segredos e histórias/estórias da organização. Revitalizada ainda no século XVII, a organização da Franco-Maçonaria em si aparentemente ganha impulso depois do incêndio que atingiu Londres em 1666 (isso porque muitos prédios, muitos mesmo, tiveram que ser reconstruídos), sendo que em 1717 surge a (especulativa) sociedade dos Free and Accepted Masons (F. and A.M.) e forma-se a primeira Grande Loja.



Incêndio em Londres de 1666. Fonte: Brasil Escola.

   Agora, se mação, maçom ou mason é relativamente fácil de se rastrear, não havendo grandes disputas quanto ao seu significado ou etimologia (embora acontece de algum egitomaníaco querer remeter a palavra à antiga língua egípcia, numa tentativa de atribuir a construção da esfinge e das pirâmides aos maçons), o mesmo não pode ser dito do termo que frequentemente o precede. No Brasil utiliza-se o adjetivo "franco" e é dado como certo que significa "livre", a discussão girando em torno do que exatamente se quer dizer com o "livre". Livre de quê?
   A explicação comumente difundida relaciona a palavra em questão aos tais pedreiros livres medievais que teriam autorização para transitar pra lá e pra cá, não estando atrelados a um senhor específico. Algo assim. Entretanto, há de se convir que poderia perfeitamente ser apenas uma tradução do "free" de Freemason - coisa que parece fazer muito sentido na medida em que a Maçonaria em si aparece no Inglaterra dos séculos XVII e XVIII.





   Acontece que o primeiro elemento de composição da palavra inglesa não é de origem assim tão clara. Harper nos diz que alguns, como Klein, veem free como uma corruptela do Francês frère (irmão), a partir de frèremaçon (irmão maçom), enquanto outros alegam que seria porque os pedreiros trabalharam sobre pedras de posição livre, havendo ainda quem os veja como "livres" do controle dos senhores ou das guildas locais.
   De qualquer forma, se os maçons deixaram de ser operativos, isto é, deixaram de ser pedreiros de fato, enquanto especulativos não abandonaram a prática da construção, passando a aparentemente - conspiratoriamente, diriam alguns - construir nações, vide a participação de muitos maçons na declaração de independência estadunidense e a sua influência na declaração de independência brasileira, por exemplo.
   Aliás, foi durante uma histórica sessão entre as lojas maçônicas "Comércio e Artes" e "União e Tranquilidade" realizada em 20 de agosto de 1822, na cidade do Rio de Janeiro, que Gonçalves Ledo teria dado a ideia da independência do Brasil, ideia essa que foi aprovada pelos reunidos e registrada na ata do Calendário Maçônico no vigésimo dia do sexto mês do ano da Verdadeira Luz de 5822 (20 de agosto de 1822).





   E foi assim que, impulsionado pelos maçons, Príncipe Regente Dom Pedro I proclamou a Independência do Brasil em 07 de setembro do mesmo ano, a data da supracitada sessão histórica sendo oficializada no artigo 179 da Constituição do Grande Oriente do Brasil e transformada no Dia do Maçom Brasileiro. Aliás, Dom Pedro I foi iniciado na Maçonaria, mas isso fica para outro texto.





REFERÊNCIAS

COUTO, Sérgio Pereira. Maçonaria para não-iniciados. São Paulo: Universo dos Livros, 2007. 128p.

DYER, Colin; tradução: CERNEA, Sérgio. O simbolismo na maçonaria. São Paulo: Madras, 2006. 218p.

HARPER, Duglas. Freemason. In:___. Online Etymology Dictionary. 2001 - 2015. Disponível em: <http://www.etymonline.com/index.php?term=freemason&allowed_in_frame=0>. Acesso em: 20 Ago 2015.

HARPER, Duglas. Mason. In:___. Online Etymology Dictionary. 2001 - 2015. Disponível em: <http://www.etymonline.com/index.php?term=mason&allowed_in_frame=0>. Acesso em: 20 Ago 2015.

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