sexta-feira, 3 de abril de 2015

Uma breve visualização do cristianismo em Jaspion

     Imagino que quase todo mundo já tenha ao menos ouvido falar de "Jaspion", originalmente chamado Kyouju Tokusou Juspion (Investigador de Monstros - Juspion). Essa série televisiva japonesa, pertencente ao gênero tokusatsu e ao subgênero Metal Hero (herói metálico), não fez tanto sucesso no seu país de origem, entretanto, no Brasil, tornou-se um verdadeiro divisor de águas, o seu sucesso abrindo o caminho para que diversas outras séries, anteriores e posteriores a ela, fossem exibidas em emissoras diversas. A partir desse momento, (felizmente) tem início a larga introdução de produções nipônicas nas terras tupiniquins.

     Sendo uma produção da Toei Company, a telessérie estreou no Japão em 15 de março de 1985 e teve seus 46 episódios primeiramente exibidos no Brasil pela extinta Manchete (que exibiu somente até o episódio 44, exibindo o 45 somente em julho de 1990, o 46 somente sendo transmitido depois da reprise do seriado com o episódio 45 sendo exibido pela segunda vez), posteriormente também sendo exibida pela Record e pela CNT-Gazeta, estando atualmente em exibição pela Rede Brasil.



Daileon, O Grande Leão


     Quanto ao enredo, basicamente, se trata de uma estória maniqueísta, na qual há a jornada espacial de um grupo de heróis representantes do bem para deter um grupo oposto, representante do mal, que encontra no planeta Terra o local perfeito para a concretização dos seus planos. Agora, além desse maniqueísmo, o que o telesseriado japonês tem a ver com o cristianismo? Se não tudo, muita coisa (e realmente acredito que o digo aqui não é nada de novo, visto que muitas coisas são bem evidentes, sendo que a análise é bem superficial mesmo).
     O protagonista, Juspion (cujo nome é uma aglutinação de Justice Champion, isto é, "Campeão da Justiça", e sofreu uma adaptação sonora no Brasil, virando Jaspion), sobreviveu à queda de uma nave espacial, os seus pais não tendo a mesma sorte. Encontrado pelo profeta e cientista Edin - cujo nome se assemelha sonoramente a Éden (o paraíso cristão), foi criado por ele e preparado para ser o lendário guerreiro profetizado pela Bíblia da Via Láctea que combateria e derrotaria a personificação das energias negativas do universo e o seu Império de Monstros.
     Só aqui nós já temos algumas referências ao cristianismo: 1) Enquanto o profetizado messias cristão é filho do Altíssimo (ou Pai do Céu) e foi criado pelo idoso carpinteiro José, Jaspion veio do céu e foi criado pelo idoso cientista Edin, sendo identificado como o lendário guerreiro profetizado; 2) a Bíblia da Via Láctea, penso eu, dispensa comentários; 3) o nome do inimigo que é a personificação das energias negativas do universo e que (aparentemente) ressurge de tempos em tempos, é Satan Goss, obviamente aludindo à entidade opositora ao Deus cristão, Satã ou Satanás (do hebraico shaitan, "oponente, adversário").



Este é Satan Goss, e sim, ele aparentemente foi inspirado em Darth Vader.


     Além disso, há ainda outras referências e pelo menos duas formas de se ver o desenrolar da estória. Basicamente, pode-se dizer que o nome do robô gigante controlado por Jaspion, Daileon, alude à Casa de Judá e ao messias cristão, visto que significa "Grande Leão". Quanto aos Quadridemos (Purina, Gyoru, Iki e Zampa) eles corresponderiam aos Quatro Cavaleiros do Apocalipse, e isso leva ao fato de que o enredo corresponderia, em parte, à estória descrita no Apocalipse de São João.



Quadridemos


     Dentre dessa correspondência, pode-se, por exemplo, traçar um paralelo entre o besta de sete cabeças e a destruição de Satan Goss, pois o mesmo é destruído por sete indivíduos juntos: Jaspion, o bebê do ovo dourado e as cinco crianças. Esses sete indivíduos representariam as sete cabeças da besta, pois, em Apocalipse 17, versículo 10, é dito que as cabeças são sete reis, dos quais cinco já caíram (as cinco crianças, encontradas por Jaspion), um existe (Jaspion) e o outro ainda não é vindo, sendo que, quando vier, durará pouco tempo (o bebê do ovo dourado, que não foi encontrado por Jaspion até a batalha final). E o bebê do ovo dourado também corresponderia à criança da mulher vestida como o sol, que é perseguida pelo dragão e refugia-se no deserto, sendo que o dragão corresponderia a Satan Goss, visto que o mesmo temia o bebê do ovo dourado acima de tudo.
     Acontece que essa é uma forma de ver a coisa toda, a qual corresponde ao cristianismo "padrão", por assim dizer. A outra forma encontra relação com o gnosticismo cristão, de modo que Satan Goss corresponderá ao demiurgo gnóstico, MacGaren, o "filho" de Satan Goss, correspondendo ao próprio Jesus, na medida em que ele chega a morrer e é ressuscitado pela bruxa galática kilsa - a qual, nesse caso, aludiria à Madalena, a primeira pessoa a ver Jesus ressuscitado. MacGaren (Mad Galant, no original) também corresponderia a Sabaoth, um outro nome do demiurgo Yaldabaoth e que, no apócrifo Hipóstase dos Arcontes, é visto como uma entidade diferente, filho do demiurgo.
     Por fim, existe um ponto mais ou menos confuso: na medida em que Satan Goss equivaleria ao deus cristão (segundo a visão gnóstica), os seus fiéis veriam Jaspion e cia como representantes do mal, como agentes do demiurgo, que, para eles, seria Daileon - visto que o evangelho apócrifo de João caracteriza o demiurgo como tendo face de leão.
     Essa dupla equivalência, em que o "mal" (Satan Goss e Mad Galant) é o "bem" para uns, enquanto o "bem" (Juspion e cia) é visto por esses como o "mal", fica evidente no fato de Mad Galant ser completamente equivalente e oposto ao Jaspion, tanto nas cores (que se opõem) quanto nos equipamentos e habilidades possuídas.



Jaspion versus MacGaren

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