quarta-feira, 21 de outubro de 2015

21 de outubro de 2015

   Para a cultura pop, o 21 de outubro de 2015 é uma data especial por conta da sua associação com o segundo filme da trilogia "De volta para o futuro", protagonizada por Marty McFly (Michael J. Fox), cujo mentor é, digo, era, será? Enfim, o Doutor Emmett Brown (Christopher Lloyd). Assim sendo, não tem como não falar sobre viagem no tempo, tema deste texto.




Acho que os três primeiros já foram inventados, só acho...

   Antes de tudo, sim, é realmente possível viajar no tempo, no sentido de pegar atalhos. Como? O franquia "De volta para o futuro" e a máquina do tempo desenvolvida pelo Dr. Emmett Brown, de certo modo, nos dão a resposta: Velocidade.
   Para ir ao futuro, bastaria estar numa velocidade suficientemente próxima à da luz, mas, para ir ao passado, devendo estar numa velocidade superior à da luz, algo complicadíssimo de se conseguir, visto que nada viaja mais rápido que a luz. Quer dizer, nada além de partículas ainda não comprovadas - embora sua existência seja prevista e possível - e chamadas taquions.
   Porém, ultrapassar a velocidade da luz não é a única maneira de ir ao passado, uma série de possibilidades tendo sido pensadas desde que Einstein apareceu com a Teoria da Relatividade:

Universo de Gödel - Solução desenvolvida por Kurt Gödel, em 1949, para as equações de Einstein. Diferentemente do nosso universo, reto com "curvaturas" decorrentes da gravidade dos corpos, esse universo seria cilíndrico, com largura infinita e feito de poeira. O nosso está em expansão, o de Gödel é estático. Além disso, a luz no universo de Gödel tem trajeto espiral, o que permite se ver um objeto em várias posições e momentos distintos, sem contar que a causalidade não funciona nele. Em tal universo, existiriam as closed time-like curves (curvas fechadas de tipo tempo) ou CTC, caminhos fechados no espaço-tempo que permitiriam a ida para um lugar qualquer do passado, mas também para o futuro seguido do retorno ao ponto inicial.

Espaço-tempo de Van Stockum - As CTC não são exclusivas do universo de Gödel, também sendo relacionadas ao espaço-tempo de Van Stockum, uma solução para as equações de Einstein que descreve um cilindro infinito de poeira que se encontra em rotação. Analogamente a essa solução, há outra, uma corda cósmica infinita e também em rotação. A rotação, presente em ambas as soluções, distorceria o contínuo espaço-temporal de modo que um viajante poderia seguir uma CTC e recuar ao passado, a dimensão desse recuo dependendo da quantidade de giros.

Buracos negros de Kerr - Buracos negros rotativos, rotação essa que distende a singularidade de densidade infinita presente nos buracos negros e o faz adotar a forma de anel. Para viajar ao passado, "bastaria" passar corretamente pelo centro do anel. Uma variante é o buraco negro pentadimensional BMPV, que permite CTC (de novo elas) do lado de fora das fronteiras do buraco negro, mas apenas se a rotação dele for suficientemente veloz.

A máquina do tempo de Gott - Imagine duas cordas cósmicas paralelamente dispostas e voando uma em direção à outra em alta velocidade, sem chegarem a se tocar. Imaginou? Richard Gott, da Universidade Princeton sugeriu isso. Aquele que passasse me torno das duas cordas quando elas estivessem suficientemente próximas poderia se ver de volta ao ponto inicial da jornada.

Espuma Espaço-temporal - Na menor escala possível, a regularidade lisa do espaço-tempo de Einstein se rompe na forma de uma massa borbulhante de irregularidades topológicas. Nessa micro-escala, avançar ou recuar no tempo seria como estar nas ondas de um mar tempestuoso.

Os buracos de minhoca de Morris-Thorne - Michael Morris (Universidade de Minnesota) e Kip Thorne (Instituto de Tecnologia da Califórnia - Caltech) postularam, no começo dos anos 90, que, para transformar um buraco de minhoca numa máquina do tempo, "bastaria" girar em altíssima velocidade uma das pontas do buraco de minhoca e, em seguida, reaproximá-la da outra ponta. Assim, um viajante que passasse pelo buraco de minhoca e, em seguida, voltasse à entrada pelo espaço normal, poderia reviver o passado. Entretanto, matéria exótica, dotada de energia negativa, seria necessária para manter o buraco de minhoca aberto.

Propulsão de dobra de Alcubierre - Enquanto investigava a plausabilidade de um motor de dobra, o físico Miguel Alcubierre (Universidade de Gales) concebeu, em 1994, um tipo de máquina do tempo de efeito similar ao dos buracos de minhoca. No lugar do túnel, o espaço existiria dobrado e uma passagem em forma de fenda poderia ser criada para permitir viagens à velocidade superior à da luz entre dois pontos, isso tendo a viagem no tempo como efeito colateral.

   De qualquer forma, viajar para o futuro talvez não gere tantos transtornos quanto viajar para o passado, na realidade, a viagem para o futuro pode ter até mesmo alguma utilidade. Como? Vamos supor que alguém se voluntarie para fazer uma viagem para o futuro às claras, uma espécie de reality show científico com, sei lá, uma centena de anos. Melhor, vamos imaginar que a ciência descubra uma cura para todos os tipos de câncer, mas estipule que esse remédio somente poderia ser produzido em larga escala e sem falhas dentro de vinte nos.



Hahahah! Não, 'pera, não é exatamente hilário...

   Feito isso, imagine, então, que um grupo de portadores dos mais variados tipos de câncer são selecionados e enviados para trinta anos no futuro (vai que deu problema e o remédio só pode ser produzido depois de vinte anos, né?!), em local pré-estabelecido, com laboratório(s) selecionado(s) e pessoal selecionado para a recepção e fornecimento do tratamento aos doentes. O único transtorno nisso aí, que não chega a ser um transtorno de fato, é que a população que enviaria essas pessoas para o futuro somente teria confirmação de que o ato deu certo após trinta anos, isso se todos viverem até lá e se não tiver ocorrido algo que tenha feito os crononautas (viajantes temporais) estacionarem antes do previsto, uns cinco ou sete anos antes, por exemplo.
   Mas, e se, juntamente com os crononautas portadores de câncer, os cientistas enviarem uma dispositivo que permita a viagem ao passado, possibilitando, assim, que as cobaias da viagem espaço-temporal regressem ao seu tempo de origem imediatamente após serem curados no futuro? Bem, isso teria que ser feito com o máximo cuidado e cheio de restrições, tudo para impedir que, no regresso, os crononautas acabassem fazendo algo que alterasse completamente a linha do tempo, como que apagando o espaço-tempo situado entre o ponto em que eles são chegam no futuro e o ponto em que eles retornam ao seu tempo de origem, escrevendo outro espaço-tempo no lugar.
   Ficou confuso, né?! Também achei (sério, quase me perco na viagem), por isso fiz um desenho no Paint:


A = ponto de partida, 2030; B = ponto de chegada, 2060; C = ponto de retorno, 2030, mas 5 minutos após o ponto A. Na primeira linha, inteiramente reta, os crononautas vão ao futuro e retornam sem causar nada que altere o decorrer dos fatos. Na segunda, eles fazem alguma coisa (como voltar levando consigo um tênis autoajustável) que apaga (ou reescreve) o espaço-tempo entre o ponto C e o B.


   Entretanto, eu vejo um "problemaço" nisso, tanto numa quanto noutra possibilidade, mas, como esse "problemaço" acaba se relacionando com um dos famosos paradoxos de viagem temporal, vamos primeiro a eles e depois retorno a isso.


Paradoxo do avô - Acontece quando o crononauta viaja para o passado e mata o próprio avô ainda criança, de modo que o pai do viajante sequer venha a nascer e, por extensão, o próprio viajante. Mas se o viajante sequer nasceu, como viajou ao passado?

Paradoxo da acumulação - Acontece quando alguém viaja até um determinado ponto do passado em que originalmente esteve, encontrando consigo mesmo (mais ou menos como em "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban"). Um nova viagem para o mesmo momento resultaria num acúmulo de "cópias" naquele ponto do espaço-tempo.

Paradoxo do deslocamento em trânsito - Crononautas levam consigo o seu próprio tempo, isto é, o presente do modo exato em que estava quando eles viajaram, não podendo ser afetados por alterações que ocorram após sua partida. Eles somente seriam afetados por tais alterações após retornarem para o seu tempo de origem, agora modificado.

Paradoxo da descontinuidade - Ocorre quando um crononauta encontra, no passado, um conhecido que viajou de outro ponto do futuro, tal conhecido pode não reconhecer o viajante, pois eles ainda não teriam se conhecido.

Paradoxo final - Ocorre quando um crononauta muda a história de tal modo, que a viagem no tempo jamais possa ser inventada.

Lei dos paradoxos menores - Se dois paradoxos mutuamente excludentes podem ocorrer simultaneamente, então primeiro ocorre o que for menos paradoxal.

Paradoxo da história retroativa - Ocorre quando um crononauta, não nascido na época de determinado acontecimento historicamente registrado, acaba se tornando o protagonista desse mesmo evento histórico.

Paradoxo do loop de informação - Ocorre quando uma informação é enviada do futuro para o passado, tornando-se a fonte inicial da mesma informação, tal como existia no futuro.

Paradoxo do loop sexual - Ocorre quando um crononauta retorna ao passado e acaba transando com um ancestral, tornando-se ele próprio um ancestral de si mesmo. Esse paradoxo pode ser visto no episódio 19, da terceira temporada de Futurama, "Roswell that ends well" ("De volta ao passado", no Brasil).



Fry e sua avó...

Paradoxo da fraude - Ocorre quando um crononauta viaja ao passado e uma ação sua altera a linha temporal, posteriormente, a sua versão passada decidindo não realizar tal ação quando alcança o mesmo ponto no futuro.

Paradoxo da causa e efeito - Se alguém viaja ao passado objetivando alterar um evento para mudar o seu presente, assim que conseguisse realizar a ação, o motivo para a sua viagem deixaria de existir, assim como a viagem.

Paradoxo das linhas de tempo alternativas - O passado não pode ser modificado, qualquer tentativa de alteração resultando na criação de um linha do tempo alternativa e de existência paralela à original, a partir do ponto de mudança, sendo que a própria chegada do crononauta ao passado já pode ser considerada suficiente para a geração de nova linha temporal.


   A franquia "De volta para o futuro" chega a abordar alguns desses paradoxos, ou quase, como é caso do paradoxo do loop sexual, visto que Marty McFly quase se torna o seu próprio pai... O paradoxo do loop de informação, por outro lado, acontece, visto que os pais de Marty o batizam em homenagem a certo Marty que eles conheceram. Enfim, lembram que eu pretendia retomar o "problemaço"? Então, o último paradoxo dentre os listados, o paradoxo das linhas de tempo alternativas,  tem a ver com ele.



Marty e sua mãe, que 'tava doidinha pra dar uns pegas nele...

   Como diabos seria possível a "simples" criação de linhas e mais linhas temporais? E quanto à lei da conservação de massa e a lei da conservação de energia? Por tais motivos, penso que tais criações de linhas temporais até seriam possíveis, mas poderiam resultar numa espécie de colapso do universo.
   Entretanto, acho mais viável (embora não saiba se é possível) uma explicação mesclando a possibilidade de múltiplos universos com a das linhas temporais, de modo que cada um desses universos seria também uma realidade temporal alternativa de existência paralela à nossa e pré-existente a qualquer viagem no tempo, tendo sido geradas juntamente com esta realidade ou de alguma outra forma, mas havendo uma quantidade limitada de tais universos espaço-temporais.
   Assim, uma viagem no espaço-tempo, fosse para o passado ou para o futuro, não o seria para o mesmo universo espaço-temporal, mas sim para um paralelo ao nosso, de modo que as alterações possivelmente efetuadas por um crononauta se dariam nessa outra realidade, mas não na dele. Ou seja, ele poderia até matar o próprio avô, mas não deixaria de existir na sua própria realidade (realidade 1), sendo que o avô morto poderia nem mesmo ser o avô dele naquela outra realidade (realidade 2).
   Todavia, a meu ver, qualquer uma dessas explicações, de certo modo, pressupõem um contínuo espaço-temporal que, de certo modo, seria "congelado", isto é, conforme o tempo iria passando, os acontecimentos espaço-temporais iriam se congelando, segundo a segundo (ou menos), podendo ser posteriormente acessados e livremente alterados. Nesse caso, acho meio impossível não lembrar daquelas cenas em que personagem incrivelmente velozes parecem se mover normalmente em meio a um mundo congelado.
   Mas também, retomando a explicação que acho mais viável, não acho impossível certa predestinação espaço-temporal, por assim dizer, como se a realidade tivesse sido deliberadamente feita num dado momento (o Big Bang, por assim dizer) e programada para acabar noutro (Big Crunch?), no intervalo entre esses dois ponto havendo uma dada quantidade de possibilidades espaço-temporais, uma espécie de "universos e se".



Mais ou menos isso, com cada linha horizontal tracejada representando um "universo e se".
No caso, cada traço seria um ponto (congelado) do espaço-tempo contínuo, um "momento-espaço",
passível de ser acessado e alterado... A partir de outro "universo e se". Penso que, o acesso de um crononauta ao passado do seu próprio universo não alteraria em nada, como se houvesse
uma espécie de mecanismo de autocorreção, isto é, toda e qualquer ação do crononauta
apenas contribuiria para que o presente dele viesse a existir da forma que ele conhece.

   E se houver um mundo onde a magia é possível? E se houver um mundo onde as pessoas têm corpo e alma separados, estas últimas tendo a forma de animais? E se houver um mundo onde os dinossauros nunca foram extintos e evoluíram para seres humanoides e sapientes? E se houver um mundo onde eu sou o Batman?




   Ah, penso que isso também ajude a explicar o porquê do Marty Mcfly e do Dr. Emmett Brown não pisarem por aqui: Eles partiram do universo espaço-temporal deles para outro, no qual a nossa amada internet não se desenvolveu.





REFERÊNCIAS

"BABUWIN". Re-post: Os 12 paradoxos da viagem no tempo. Publicado em: 25 Jan 2012. Disponível em: <http://ahduvido.com.br/os-12-paradoxos-da-viagem-no-tempo>. Acesso em: 20 Out 2015.

GROSSMANN, Cesar. Como seria realmente viajar no tempo. Disponível em: <http://hypescience.com/como-seria-realmente-viajar-no-tempo/>. Acesso em: 21 Out 2015.

NUCLIO - Nécleo Interactivo de Astronomia. Viagens no tempo e a violação da causalidade. 2001-2009. Disponível em: <http://www.portaldoastronomo.org/tema64.php>. Acesso em: 21 Out 2015.

REDAÇÃO Super. É possível viajar no tempo? In: SUPERINTERESSANTE: 30 Maiores mistérios da ciência. Edição 240a. Jun 2007. Disponível em: <http://super.abril.com.br/historia/e-possivel-viajar-no-tempo>. Acesso em: 20 Out 2015.

Relatividade. Disponível em: <http://www.fisica.net/viagensnotempo/>. Acesso em: 19 Out 2015.

VOGEL, Jason; OLIVEIRA, Luccas. Na próxima quarta, chegaremos a 'De volta para o futuro'. Publicado em: 18 Out 2015. Atualizado em: 19 Out 2015. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/cultura/filmes/na-proxima-quarta-chegaremos-de-volta-para-futuro-17806149?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo>. Acesso em: 19 Out 2015.

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