segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Orson Lannister e George R.R.Martin

     Quando finalmente resolvi assistir a série Game of Thrones [1], a vontade de querer constatar o que muita gente sofridamente dizia no Facebook ficava me perturbando. Eu queria porque queria ver se realmente os personagens morriam feito carapanãs depois de você espirrar um pouco de inseticida.
     Então, eu particularmente penso [2] [3] que não morram tantos personagens, isso se considerarmos a proporção (a quantidade de mortos com a quantidade de personagens nominados) e o fluxo de entradas e saídas (Morreu muita gente em Mereen? Morreu, porém, proporcionalmente surgiu um monte de selvagens, gigantes, whitewalkers...), mas existe uma contagem apontando 5179 (cinco mil cento e setenta e nove) mortes até a terceira temporada.
     Esse quantitativo é realmente elevado, mas somente se considerarmos também as personagens sem nome (o que obviamente deve ter sido feito) e ignorarmos as duas coisas anteriormente mencionadas. Porém, o que realmente chamou a minha atenção em se tratando das mortes no telesseriado foi outra coisa: o primo distante de Tyrion, Cersei e James Lannister, Orson Lannister.
     Mencionado na quarta temporada da telessérie, a personagem mentalmente vive em um mundo só seu e dedicava-se (pois teria morrido devido ao coice de uma mula) a regularmente esmagar besouros com pedras. Deste modo, Orson soa como uma alusão do autor, George R.R. Martin, a si mesmo, no que tange à prática regular de matar personagens.
     E considerando que nenhum Orson é mencionado nos livros (até agora), tal personagem poderia muito bem ter sido propositalmente criada por George devido às muitas piadas e comentários dos fãs sobre a matança indiscriminada e aparentemente inexplicável que ele promove. E não fui o único que percebi isso, como uma rápida busca no google por Orson Lannister demonstra:




     Só que, como eu sou meio obsessivo por querer descobrir a etimologia de cada palavra, a história por trás dela, não poderia deixar de verificar as origem do nome "Orson" a fim de descobrir se haveria alguma relação com George R.R. Martin.
     Entre os anglófono, Orson é um nome próprio masculino cuja origem está no francês ourson, diminutivo de ours (urso), que, por sua vez, é uma palavra oriunda do latim ursus [4]. Aqui a coisa fica divertida, pois o urso é um animal dotado de certo simbolismo, o qual se encaixa muito bem na personagem:


Símbolo da coragem masculina e da força primitiva, ao passo que as ursas simbolizam cuidado e receptividade, embora Jung os tenha conectado com aspectos perigosos do inconsciente. Nas tradições islâmica e cristã, o urso é cruel e concupiscente. (O'CONNELL; AIREY. 2011. p.267) 


     Portanto, tem-se o urso/Orson como um representante da(quilo que pode ser considerado como) crueldade divina, principalmente se considerarmos que o escritor atuaria como a divindade criadora do universo de A Song of Ice and Fire. Porém, também é importante averiguar o simbolismo por trás dos besouros. No caso, como (ainda) não encontrei algo referente aos besouros em si, utilizarei o simbolismo de um tipo específico de besouro, os escaravelhos:


O estercorário ou escaravelho simbolizava vida nova e ressurreição. Era chamado de estercorário por seu hábito de fazer uma bola de esterco onde colocava seus ovos. Isso era considerado símbolo da jornada do sol em seu caminho para o céu. Os escaravelhos que falam da lama eram associados com a vida surgindo das colinas primitivas e simbolizavam a criação espontânea. (O'CONNELL; AIREY. 2011. p.15)


     Assim, a relação do Lannister que mata regular e cotidianamente besouros com George R.R. Martin matando sem qualquer cerimônia suas personagens pode ser traduzida como a necessária crueldade que permitiria o florescimento de vida nova, pois, por mais que Orson matasse mais e mais besouros, todos os dias, eles não se extinguiam. Sempre havia besouros para ele matar. E isso acaba se relacionando com a questão do fluxo de entradas e saídas que mencionei, pois, se é verdade que muitos personagens são mortos, também é verdade que outros tantos são inseridos. Saem uns, entram outros.





NOTAS

[1] Porque 1) consegui uma conexão com a internet suficientemente boa para me permitir assistir online, e, 2) dificilmente tenho paciência para acompanhar séries de acordo com o lançamento das temporadas delas, preferindo ver tudo de uma só vez.

[2] Na telessérie, ao menos, pois ainda não li os livros, de besta, pois tive a oportunidade de comprar TODOS os já lançados de uma só vez e não o fiz.
[3] "Penso" porque ainda não parei para fazer cálculos.

[4] Entre as outras palavras filhas de ursus, com o mesmo significado, estão o espanhol oso e o galego-português oso.




REFERÊNCIA

O'CONNELL, Mark; AIREY, Raje. Almanaque ilustrado símbolos. Tradução: GINZA, Débora. 3 ed. Escala: São Paulo, 2011. 269 p.

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