As personagens "César" e "Itália" como representações de Júlio César e da Península Italiana

     A telenovela global do horário das 19h00, Alto Astral, vem sendo exibida desde 03 de novembro de 2014 e deverá chegar ao fim neste mês de Maio. Com temática voltada para o sobrenatural com foco no espiritismo, algo que não é nem um pouco novo ou mesmo raro nas produções televisivas da Globo, a telenovela também apresentou outras temáticas, como o racismo, os nomes incomuns de pessoas (eu considero com um tema), a medicina brasileira (tema, inclusive, que mereceria um texto próprio, devido à interpretação política que se pode fazer) e o vazamento de pornografia caseira. Quanto ao último tema mencionado, ele nos interessa muito por estar relacionado com as personagens que serão escamoteadas, isto é, César Santana (Alejandro Claveaux) e Itália Pereira (Sabrina Petraglia).

     Basicamente, a história em torno de César e Itália diz respeito a uma aposta feita entre o playboy César e uns amigos, na qual ele teria que conquistar Itália e tirar a virgindade da mesma, comprovando o feito através de uma filmagem. Entretanto, não só o rapaz conquistou a donzela, como também se apaixonou por ela, querendo desistir da aposta e cancelando-a. Porém, a primeira noite de sexo do casal, que também foi a primeira de Itália, acabou sendo filmada clandestinamente e exibida para todos os presentes no noivado dos dois. Após isso, ela descobriu a aposta e não perdoou o ex-noivo, mesmo com ele dizendo que havia cancelado a mesma.

     Posteriormente, o ainda apaixonado César foi convencido de que a melhor maneira de reconquistar sua amada seria abandonar o comportamento que tinha, regenerando-se e passando a ser "um bom rapaz", "mocinho", etc. Tal plano aparentemente dá certo, mas, na realidade, Itália deseja se vingar de César, fazendo com que ele ganhe a competição de natação e seja pego no exame antidoping, sendo humilhado publicamente. Ele descobre as intenções dela antes, mas decide fingir desconhecimento e faz tudo conforme o plano dela, sendo desmascarado publicamente durante a cerimônia de premiação da competição - após a qual ele conta a ela que já sabia de tudo.

     Acontece que essa história não apenas trata de situações contemporâneas, mas também faz alusão a certos acontecimentos da Antiguidade Clássica, acontecimentos esses que estão intimamente relacionados ao processo de transformação da República Romana no Império Romano. É muita viagem e não tem nada a ver?

     Não, não é. Primeiro que isso já está explícito no nome das personagens, "César" obviamente aludindo a "Júlio César", conquistador da Gália e Princeps de Roma, enquanto "Itália" remete à região na qual a civilização romana se desenvolveu. Partindo disso, existem duas principais situações na história das personagens televisivas em questão que se relacionam com a transição da República em Império: 1) Aposta e defloração de Itália; 2) traição.

     A primeira situação diz respeito ao esfacelamento do Primeiro Triunvirato (Crasso, Pompeu e César), devido à morte de Crasso, ao que se seguiu a nomeação de Pompeu como Consul único e a exigência do Senado para que César desmobilizasse as suas tropas e Pompeu o combatesse. Com o fracasso das negociações de César com Pompeu e o Senado, ele decidiu fazer algo que era terminantemente proibido: atravessar o Rio Rubicão com um exército permanente, invadindo, assim, a Itália e Roma as com suas legiões. E ele fez isso, dizendo, ao atravessar o Rio Rubicão (limite de seus domínios), a famosa frase "Alea jacta est", que significa "A sorte está lançada".

     Quanto à segunda segunda, ela diz respeito ao fim dos dez anos em que Júlio César foi ditador, período no qual empreendeu numerosas reformas. Objetivando se tornar rei, um dia César foi chamado ao Senado para resolver um assunto importante e, lá chegando, foi apunhalado por um grupo de senadores.

     Portanto, temos: 1) A sorte lançada por Júlio César e a aposta feita por César; 2) A invasão da Itália por Júlio César e o deflorar de Itália por César; 3) O desejo de Júlio César em tornar hereditária a sua posição e o desejo de César em casar e constituir família com Itália; 4) A rejeição do povo e do Senado à ideia de um retorno à monarquia e a descrença de Itália de que César havia mudado; 5) A traição sofrida por Júlio César e a vingança empreendida por Itália. 

Assassinato de César, 1865, Karl Theodor von Piloty, Museu do Estado da Baixa Saxônia, Hanôver.