O elixir da ciência do bem e do mal

   O café preto e servido numa xícara branca com detalhes róseos estava quentíssimo, o ambiente exterior ao que aparentava ser uma lanchonete de beira de estrada estando coberto pela neve que caia fraca e continuamente, fazendo a moça pensar na sua infância, até sentir um leve calor contra o queixo. Era o vapor do café, mas era um vapor, no mínimo, incomum.
   Um rápido olhar para a bebida bastou para ela perceber aquilo. Branco e condensado, ele ascendia onduladamente sem dispersar-se e desaparecer, formando uma aglutinação amorfa, que aos poucos foi assumindo uma medonha forma, mista de serpente, touro e homem, tendo sobre os ombros e robustos braços um sem-número de diminutos e inquietos lanceiros.
   A cada momento, quanto mais nítida aquela bizarra forma ficava, mais o vapor aproximava-se da face de sua jovial e embasbacada observadora, enfim sendo por ela tão abruptamente inspirado, que quase a sufocou.
   Ruborizada e tomada de súbito e intenso calor interno e externo, a moça levantou-se já erguendo a mesa e arremessando-a contra a vidraça da janela, que se estilhaçou. Era como se milhares de indivíduos estivessem dentro dela, tentando tomar-lhe o controle e, ao resistir contra isso, ela acabava derrubando, arremessando, destruindo coisas ao redor.
   Até que, repentinamente, uma paralisia fê-la cair de barriga para cima e bater a cabeça contra o chão, momento em que se viu imediatamente rodeada de todo tipo de gente, sua última memória antes de desacordar e, então, acordar na cama de seu quarto, sem saber se o incidente realmente havia ocorrido ou se tudo não tinha passado dum sonho ruim.

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