terça-feira, 28 de junho de 2016

Winds of Winter e a expectativa para a temporada 7

   Como muitos já devem estar sabendo a essa altura do Grande Jogo, a série televisiva Game of Thrones já ultrapassou a série literária na qual é baseada, A Song of Ice and Fire, de George R.R. Martin. Isso significa que a especulação a respeito do que pode vir por aí na sétima e talvez última temporada está liberada por inteiro - E é exatamente isso o que será feito neste artigo, tomando por ponto de partida os acontecimentos do décimo e último episódio da sexta temporada, o excelente "Winds of winter" ("Ventos de inverno" ou "Ventos Invernais").





Resumo de Winds of Winter

   Resumindo o episódio, tivemos o julgamento de Loras Tyrell, que se converteu em membro da Fé Militante dos Sete, e a execução do plano de último recurso de Cersei Lennister, o qual basicamente consistiu em incendiar o Grande Septo de Baelor com todos os presentes nele, incluindo o Alto Pardal, os "pardaizinhos", os Tyrell que lá estavam e os espectadores do julgamento. A explosão incendiária foi vista por Cersei e pelo Rei Tommen, impedido de deixar seus aposentos pelo Gregor Clegane - o qual é deixado por Cersei a sós com a septã Unella, aparentemente para violentá-la sucessivas vezes por sabe-se lá quanto tempo [2].




   Após a aparente confirmação da morte de sua esposa, o Rei comete suicídio, atirando-se da varanda [1]. Além disso, há um banquete de celebração da conquista de Riverrun e da aliança entre os Frey e os Lennister, Jaime dizendo umas verdades ao Lord dos Frey. Cersei vê o cadáver do filho e ordena que ele seja queimado e tenha as cinzas enterradas no chão do Grande Septo.
   Enquanto isso, Samwell Tarly, acompanhado por Goiva e o bebê, chega à Cidadela para se tornar um meistre e ganha autorização para utilizar a gigantesca biblioteca enquanto, aparentemente, o Alto Meistre será chamado e se dirigirá até lá para discutir certas irregularidades com ele.
   No norte, em Winterfell, após uma conversa entre Jon Snow e Melissandre, Davos intervém e confronta a feiticeira vermelha sobre o destino de Shireen, fazendo-a confessar que a menina foi queimada viva e pedindo autorização a Jon Snow para executá-la por assassinato, ao que este prefere ordenar a Melissandre que ela vá imediatamente para o sul e não volte, do contrário será enforcada. Também é firmada a aliança ou são feitos votos de confiança, como preferir, entre Jon Snow e Sansa Stark.
   Em seguida, há a reunião entre Olenna Redwyne e Ellaria Sand, em Dorne, elas combinando vingança contra Cersei Lennister, ao que Varys surge para fazer parte da conversa. Após isso, ocorre a despedida entre Daenerys e seu amante, ela posteriormente indo conversar com Tyrion, que é nomeado Mão da Rainha por ela.




   Então, há a cena onde Walder Frey é mostrado sendo servido, descobrindo-se que os filhos dele eram a refeição servida e que quem preparou foi Arya Stark, a qual se desfaz do seu rosto falso e mata o velho. Na sequência, Sansa é abordada por Mindinho acerca da possibilidade de ela se casar com ele para governarem juntos os sete reinos, ao que ela recusa e ele lança dúvidas a respeito de quem deveria realmente governar o norte, se ela ou se Jon Snow.
   Em algum lugar além da Muralha, o morto-vivo Benjen Stark deixa seu sobrinho e Meera sob uma árvore do tipo represeiro e Bran se utiliza dela para ver o passado, para ver o que aconteceu na Torre da Alegria, sendo nos mostrado Ned Stark com sua irmã Lyanna, que aparentemente conta a ele sobre a paternidade do filho recém-nascido dela e pede que ele prometa. Após a câmera focar na face do bebê, a transição leva diretamente para o rosto de Jon Snow, deixando claro que ele é filho de Lyanna Stark.
   De volta ao norte, famílias nortenhas, o povo livre (selvagens) e os cavaleiros do Vale estão reunidos para discutir a aliança com Jon Snow, havendo relutância em se fazer aliança com o povo livre, mas Lyanna Mormont dá uma dura em todos e declara que Jon, por mais que seja bastardo de Ned, é um Stark e é o rei dela até o último dia da vida dele. Após isso, há unanimidade na proclamação de Jon Snow, o Lobo Branco, como o Rei do Norte. Mindinho e Sansa Stark trocam olhares suspeitos.




   Jaime e o seu contingente retornam a Porto Real, se deparam com o Grande Septo de Baelor fumaçando e se apressam, chegando a tempo de testemunhar Cersei sendo coroada Rainha dos Sete Reinos. A troca de olhares entre os irmãos-amantes não é amistosa. Por fim, temos a imensa frota de Daenerys Targaryen - contando com homens das Ilhas de Ferro, o povo dothraki e imaculados - e seus dragões rumando de Essos para conquistar Westeros.



Uma breve nota sobre o "Game of Girls"

   É notório que Game of Thrones tem atuado praticamente como "um líbelo feminista", ainda que em alguns momentos fique muito mais evidente uma procura por inverter os papeis sociais de homens e mulheres de tal mundo do que uma busca por igualdade - e ao dizer isso eu estou me referindo especificamente a situações de pedestalização de Daenerys e de retratação de determinados personagens masculinos quase como ou como "homens capachos, castrados, da sociedade idealizada por Valerie Solanas" [3], sendo que Theon Greyjoy e os imaculados - cuja castração não é metafórica - podem ser tomados como os maiores exemplos disso. Claro, toda essa parte pode ser entendida como uma crítica a determinados discursos e não como uma defesa a eles, mas tudo isso é outra história.


Esse textão, na verdade, é a reprodução de um trecho
do Manifesto Scum, livro de Valerie Solanas.

   Acontece  que toda essa "atuação feminista" da série corresponde a um processo onde determinadas personagens femininas passaram a ganhar destaque ou muito mais destaque e obtiveram ou passaram a exercer determinado poder ao mesmo tempo em que muitos personagens masculinos foram sendo eliminados. E enquanto alguns podem ver nisso apenas uma questão de "empoderamento feminino", eu vejo a retratação de uma coisa até mesmo corriqueira: Em tempos de guerra, a maior parte da população masculina morre ou fica inutilizada, isso permitindo uma abertura de espaço para as mulheres, que assumem determinados papeis - O começo do século passado, com duas guerras mundiais, está aí para atestar isso.
   Esses períodos não costumam ser muito longos, a sociedade logo se restabelecendo mais ou menos como antes, quer dizer, existe toda uma ciclicidade envolvendo isso, onde num momento existe uma forte predominância masculina para no momento seguinte haver algum predomínio feminino e posteriormente se retornar à predominância masculina. Tudo isso também está relacionado com essa questão de papeis de gênero e abandono ou retomada da virilidade/feminilidade. Aliás, a ensaísta e crítica social Camila Paglia fala mais ou menos a respeito disso:






Expectativas para a sétima temporada


O começo

   Dito tudo isso e baseado nos acontecimentos do décimo episódio da sexta temporada, podemos ter certeza que a sétima temporada de Game of Thrones contará com um conflito entre mulheres e um conflito entre homens, sendo que o primeiro - entre Daenerys Targaryan e Cersei Lennister pelo Trono de Ferro - muito provavelmente será resolvido por interferência do segundo - entre Jon Snow e o Rei da Noite - ou pela interferência de um homem. Por que um homem?


Maggy, a rã.

   Porque, de acordo com a profecia de Maggy, a Rã, Cersei somente morrerá pelas mãos do seu irmão mais novo, ou seja, supondo que não tivesse nenhum irmão dela no conflito, tudo o que Daenerys fizesse não a mataria - e como a Cersei é que nem brasileiro, não desiste nunca, a guerra se arrastaria por sabe-se lá quanto tempo, talvez somente até o conflito contra os caminhantes brancos interferir nela. Todavia, o fato é que os dois irmãos de Cersei estarão envolvidos no conflitos, cada um de um lado dele, cada um servindo à sua própria rainha loura que gosta de tacar fogo nas coisas.
   Há a possibilidade de que tanto Tyrion quanto Jaime matem Cersei, sendo que ela e a maioria do público aposta no anão. Porém, se for confirmada a hipótese de Tyrion ser filho do Rei Louco, então ele não seria irmão de Cersei, mas meio-irmão, o que faria com que Jaime, gêmeo, mas nascido depois dela, a mate - e ele não apenas tem motivos suficientes para isso, como a troca de olhares nada amistosos entre ele e a agora Rainha Cersei deu a entender que o relacionamento incestuoso deles dois chegará tragicamente ao fim.


Jon Starkaryen e Daenerys Targaryen

   Esse segundo regicídio feito por Jaime, que poderia até mesmo cometer suicídio em seguida, embora eu ache pouco provável, acarretaria na resolução parcial do conflito pelo Trono de Ferro. "Parcial" porque Daenerys subiria muitos degraus em direção ao Trono de Ferro, mas agora há a certeza de que Jon Snow é filho de Lyanna Stark e Rhaegar Targaryen, filho do Rei Louco, e isso poderia fazer aparecer um disputa de legitimidade entre Jon e Daenerys, sendo que ela é filha do Rei Louco e Jon Snow é sobrinho dela, mas filho do filho do Rei Louco. Quer dizer, recorrendo à regra da sucessão por linha paterna, o trono seria do Jon Snow, não de Daenerys.
   Porém, para haver tal disputa, primeiramente o pessoal em Westeros teria que descobrir que Jon é um bastardo Targaryen, coisa que eu não faço muita ideia de como aconteceria, só me vem à mente Bran Stark contatando alguém e revelando isso. Isso acontecendo mais cedo na temporada significaria que a disputa entre Jon e Daenerys teria que esperar por conta do conflito contra o Rei da Noite. O que poderia acontecer durante tal conflito seria a comprovação da ascendência de Jon, que poderia se dar acidental e publicamente, com ele se mostrando resistente ao fogo, por exemplo.


Provavelmente o conflito contra o Rei da Noite ganhará impulso
na segunda metade da sétima temporada,
após Samwell Tarly aparecer os métodos capazes de deter
os inimigos e algum plano utilizável.


   Entretanto, a disputa entre Daenerys e Jon pode não ser o único caminho, afinal, no décimo episódio da sexta temporada, ela falou em fazer aliança por casamento, mas com quem ela se casaria? Os Lennister e Euron Greyjoy estão fora de cogitação. Talvez os Tyrell e os Martell, mas aparentemente tanto um quanto outro ficaram sem herdeiros masculinos. Grosso modo, sobra o Jon Snow, até mesmo por conta dos Stark terem se oposto aos Lennister-Baratheon. Assim, há grande possibilidade de rolar um casamento entre Jon Snow Stark Targaryen (ou Starkaryen?) e Daenerys Targaryen, entre sobrinho e tia, eles tendo ciência disso ou não, o que não importa muito, já que são Targaryen.


Tyrion e Daenerys

   Outra possibilidade é que, sendo confirmado que Tyrion tem o Rei Louco como pai, o anão é que estaria na condição de legítimo herdeiro ao trono, quando se considera a regra de sucessão masculina, e, embora eu descarte a possibilidade de um casamento dele com Daenerys, caso o mesmo viesse a ocorrer, seria muito interessante por conta do paralelismo com uma história infantil muito conhecida: Alice no País das Maravilhas.


Tyrion e Daenerys?
Seria interessante, mas acho que não rola.

   No caso, Tyrion e Daenerys, casados, funcionariam como o Rei e a Rainha de Copas, principalmente se considerarmos a versão Disney e se ela vier a dar uma enlouquecida... Mas acho que isso não viria a ocorrer, ainda que Tyrion realmente possa vir a ser identificado como um Targaryen, principalmente porque o dragão precisa ter três cabeças e, até agora, só temos duas confirmadas.


Arya, Riverrun, Tully e Lady Stoneheart

   Bem, é possível que o papel de Lady Stoneheart, personagem dos livros, tenha sido absorvido por Arya Stark na série de televisão, de modo que, na sétima temporada, muito possivelmente veremos a dona da loba Nymeria matando mais alguns envolvidos no Casamento Vermelho, sendo que ela já começou isso ao massacrar os Frey. Desde modo, é possível que ela venha a se juntar à Irmandade Sem Bandeira, retomando parceria com o Sandor Clegaine.


As Gêmeas, não 'pera...


...Agora sim! As Gêmeas, que possivelmente passarão
para o domínio dos Tully.

   Agora, com os Frey aparentemente massacrados, não apenas Riverrun [4], como as Gêmeas, terras dos Frey, possivelmente passarão para o controle dos Tully - talvez na figura de Edmure Tully, o que significa que os Stark terão mais uma casa para a aliança.


Bran e os demais

   Penso que Bran passará a se utilizar da "rede telepática trans-espaço-temporal de árvores-coração" para acompanhar os acontecimentos em Westeros e interferir, auxiliando principalmente no conflito contra o Rei da Noite, principalmente no norte.
   Quanto ao Euron Greyjoy, certamente será derrotado e deposto pelos sobrinhos, que retomarão as Ilhas de Ferro e imporão um novo modo de vida aos homens de ferro para manter o lugar independente.
   Eu não estranharia se fosse revelado que Varys na verdade não é uma só pessoa, mas sim dois ou mais indivíduos sem face fazendo uso do mesmo rosto, isso porque ele se deslocou de maneira incrivelmente veloz de Dorne para Meereen no décimo episódio da sexta temporada! Veloz até mesmo para a usual velocidade de deslocamento do Mindinho.


O nome Varys pode ser uma variação proposital de:
1. Varies, terceira pessoa do singular do verbo inglês vary, "variar");
2. ou do adjetivo various, significando "vários".

   E por falar no Mindinho, penso que seja pouco provável que ele venha a trair os Stark fazendo uso dos cavaleiros do Vale, devido ao parentesco entre Robin (Robert) Arryn e Sansa Stark, sendo muito mais provável que Sansa volte atrás e se torne esposa dele - podendo posteriormente se livrar dele, principalmente se isso representar uma ameaça para o Jon "Starkaryen" enquanto herdeiro do Trono do Ferro, que é o que o Mindinho almeja.



O Fim

   Não, eu não grifei errado o título desta seção do artigo, eu apenas achei melhor encerrar o mesmo mesclando a conclusão com o que eu acho que acontecerá no final da série televisiva. Basicamente, eu vejo muita gente falando sobre a série ser o máximo por muitos personagens não terem final feliz, sendo que uma quantidade considerável desse povo dá a entender que acredita que a série não terá um final feliz.
   O problema nisso é que, para a série não ter um final feliz, os caminhantes brancos teriam que sair vitoriosos na derradeira guerra entre eles e os homens. O inverno teria que triunfar - e qual o sentido nisso? A não ser que a "canção do gelo e do fogo" trate de como Westeros sucumbiu perante o inverno e uma nova série literária e televisiva seja feita focada em Essos ou em outro continente que estaria lutando para impedir o Rei da Noite de triunfar. Só que, então, os esforços de personagens como Jon e Sam para vencer os caminhantes brancos terá sido em vão? Se fosse assim, a obra seria muito deprimente, mais do que o último episódio de Família Dinossauro - e olha que esse episódio é deprimente pra caralho.


Óbvio, Jon "Starkaryen" é o Azor Ahai. Poderia ser Daenerys ou o Tyrion? Poderia, mas...
...Nenhum dos dois é um espadachim habilidoso, Jon tendo reputação quanto ao manejo da espada

   Agora, quanto ao que eu acho sobre o final da série... Acredito que ele ficará no óbvio. Ainda que personagens importantes e queridos venham a sucumbir ou sofrer perdas tão terríveis quanto a que Theon Greyjoy sofreu, é certo que Jon "Starkaryen" e seus amigos, num clima de muita aventura, onde vão rolar altas azarações, conseguirão deter o Rei da Noite e finalmente resolver a quem diabos pertence o Trono de Ferro.





NOTAS

[1] Curiosamente, a cena do suicídio de Tommen poderia ser tomada como um erro, pois é dito (ainda não achei uma fonte confiável para isso) que suicidas que se jogam de lugares altos não "mergulham", mas sim que pulam de pé.

[2] Essa cena me lembrou da frase que muitas feministas usam quando se deparam com uma mulher anti-feminista: "Quando você for estuprada, vai precisar do feminismo".

[3] Valerie Solanas foi uma feminista radical, autora do Manifesto SCUM (em inglês: SCUM Manifesto), onde prega a construção de uma sociedade constituída unicamente por mulheres e o extermínio dos homens. Super da hora isso, né?!

[4] Pelo o amor dos deus antigos, dos sete deuses, do deus afogado, de R'hllor, do deus de muitas faces e até mesmo do "Grande Outro", se forem traduzir Riverrun, não traduzam como "Correrio", mas sim como "Corre Rio" ou como "Correrrio". Grato.

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